EUA enfrentam inflação e crescimento fraco após aumento recorde de tarifas

O presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva impondo tarifas sobre 66 países, com alíquotas variando de 10% a até 41%, nesta que é considerada a maior escalada tarifária dos Estados Unidos nas últimas décadas. Apesar de manter os mercados globalmente estáveis até o momento, economistas e instituições internacionais já alertam para um aumento de inflação e desaceleração econômica nos próximos meses.
Tarifas recordes e receita federal
Segundo o The Budget Lab (Yale), a média efetiva das tarifas dos EUA em 2025 está estimada em 22,5%, a maior taxa desde 1909. Na comparação com o início do ano, a carga tarifária saltou de apenas 2–3% para cerca de 17–18% . Esse aumento elevou os preços ao consumidor em 2,3% em média, o que representa uma perda de poder de compra de aproximadamente US$ 3.800 por família em 2024.
O Tesouro dos EUA arrecadou US$ 124 bilhões em tarifas até 25 de julho, com expectativa de alcançar os US$ 300 bilhões até o fim de 2025. A proposta visa reforçar as receitas federais e estimular investimentos, mas traz efeitos colaterais agudos.
Impactos na economia doméstica
De acordo com projeções do Penn Wharton Budget Model, as tarifas anunciadas reduzirão o PIB em cerca de 0,9 ponto percentual em 2025, com impactos persistentes que levarão a US$ 180 bilhões anuais de perda em produção econômica. A longo prazo, as tarifas podem reduzir o PIB real dos EUA em até 6% e os salários em 5%, com perda de cerca de US$ 22 mil para famílias de classe média ao longo da vida.
Economistas do Oxford Economics e do U.S.-China Business Council estimam que 245 mil empregos já foram perdidos devido às tarifas desde 2018, e que represálias comerciais reduziram ainda mais as exportações.
Efeitos globais e reequilíbrio comercial
O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para cima o crescimento global de 2025, projetando 3%, e para os EUA, 1,9%, apesar das tarifas. Já a OCDE prevê resultados mais pessimistas: crescimento dos EUA limitado a 1,6% em 2025 e inflação de até 3,9%, bem acima da taxa ideal, podendo adiar cortes de juros pelo Fed.
Só pela elevação das tarifas em 2025, os preços para famílias americanas subiram entre US$ 1.200 e US$ 1.450, segundo a Tax Foundation. Esses impactos pressionam o consumo interno, ameaçam reduzir a confiança do consumidor e podem comprometer a política econômica da administração.
Reação dos mercados e investidores
O mercado de ações dos EUA segue em patamares recordes, impulsionado pela força do setor de tecnologia e estabilidade macroeconômica aparente. No entanto, instituições financeiras estão realocando carteiras por receio de que os riscos tarifários estejam sendo subestimados: quase metade dos investidores institucionais considera os efeitos negativos ainda por vir.
Quem mais sofre: Alemanha, Índia e China
O impacto varia conforme a dependência comercial com os EUA. A Alemanha, fortemente exportadora para o mercado americano, pode ver seu crescimento encolher mais de meio ponto percentual, por conta de tarifas de até 15% sobre automóveis e peças.
Já a Índia, mesmo com tarifas de 25%, depende em menor grau do mercado americano (cerca de 2% do PIB), o que mitiga o efeito imediato. Além disso, países como Vietnã e Filipinas podem se beneficiar da transferência de cadeias produtivas por conta da preferência tarifária.
Resumo dos principais riscos
- Inflação crescente e perda de poder de compra dos consumidores
- Redução do crescimento econômico e da renda real das famílias
- Prejuízos nas exportações e empregos afetados em setores estratégicos
- Riscos para mercados e confiança institucional
- Reorganização do comércio global e formação de novos blocos econômicos
Embora Donald Trump celebre a arrecadação recorde e eventuais acordos comerciais, os efeitos adversos sobre preços, crescimento e competitividade democrática ainda estão se desenrolando. O “tarifaço” trouxe recursos à União, mas impôs custos diretos aos consumidores e à capacidade produtiva do país. Se as projeções corretas, o legado econômico do período será de sacrifício doméstico e incerteza global — e não apenas vitória fiscal.