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Incêndio em clínica no DF mata cinco e expõe negligência
Tragédia em clínica de reabilitação no Paranoá revela falhas de segurança e levanta questionamentos sobre fiscalização.

Incêndio em clínica no DF mata cinco e expõe negligência

01 de setembro, 2025
3 minuto(s) de leitura

Tragédia em clínica de reabilitação no Paranoá revela falhas de segurança e levanta questionamentos sobre fiscalização.

A madrugada de domingo, 25, foi marcada por uma tragédia em uma clínica de reabilitação no Distrito Federal. Um incêndio na Comunidade Terapêutica Liberte-se, localizada no Boqueirão, área rural do Paranoá, deixou cinco mortos e 11 feridos. As vítimas hospitalizadas foram encaminhadas ao Hospital Regional Leste e ao Hospital Regional da Asa Norte, com queimaduras e intoxicação por fumaça.

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF), o fogo começou por volta das 3h. Dez viaturas foram acionadas para controlar as chamas, que se espalharam rapidamente pela casa. Ao chegar, os militares encontraram altas labaredas no telhado e grande quantidade de fumaça no interior da clínica.

Vítimas e resgate

As mortes foram confirmadas de Darley Fernandes de Carvalho, José Augusto, Lindemberg Nunes Pinho, Daniel Antunes e João Pedro Santos. Antes da chegada dos bombeiros, vizinhos e internos de outra unidade da instituição tentaram resgatar as pessoas presas no imóvel.

O sobrevivente Daniel Gonçalves, 24, relatou que ouviu os gritos de socorro e correu para ajudar. “A sala já estava em chamas, e muitos estavam desmaiados pela fumaça. Tentamos quebrar janelas para tirá-los, mas nem todos conseguiram sair”, contou.

Outro paciente, Luís Nascimento, 57, afirmou que a casa estava trancada e sem equipamentos básicos de segurança. “Não havia extintores, nem saídas de emergência. Tivemos que entortar as grades para salvar as pessoas. Consegui retirar seis pela janela”, disse.

Denúncias de negligência

Familiares acusam a administração da clínica de falhas graves. G.C.S., 24, que perdeu o irmão no incêndio, disse que os internos eram trancados durante a noite. “O teto era de madeira antiga, não havia extintores. Era uma armadilha”, afirmou.

O pai de uma das vítimas, Dione da Silva Oliveira, relatou que só soube da tragédia horas depois, pelas notícias. “A clínica só informou no grupo de mensagens cerca de oito horas após o ocorrido. Eles esconderam o caso”, criticou.

Internos que sobreviveram denunciaram ainda que foram orientados a não comentar o incêndio com ninguém. Após o episódio, a instituição liberou pacientes de outra unidade para passar o fim de semana em casa.

Vizinhança em choque

Moradores da região também se mobilizaram no socorro. A professora Rafaela Souza, 43, contou que ouviu estalos e gritos antes de perceber o incêndio. “Foi pânico total. Meus filhos arrombaram o portão para ajudar. Muitos saíam sufocados, tossindo. Usamos baldes com água da piscina, mas era tarde demais”, relatou.

Ela criticou a demora no atendimento. “Demorou mais de cinco minutos para os bombeiros chegarem, sendo que o quartel é próximo. Foi cena de guerra, com gente abrindo janelas no escuro, iluminados só por lanternas de celular”, disse.

Situação da clínica

A Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística do DF (DF Legal) informou que a unidade possuía licença válida. A confusão com relatos de interdição teria ocorrido porque outra clínica, de mesmo proprietário, em Sobradinho, estava irregular e foi fechada.

Em nota, a direção do Instituto Liberte-se lamentou a tragédia, declarou solidariedade às famílias e afirmou colaborar com as investigações. “Reiteramos nosso compromisso com a transparência e com a apuração rigorosa dos fatos”, diz o texto.

Investigação em andamento

A 6ª Delegacia de Polícia do Paranoá abriu inquérito para apurar as causas do incêndio e as condições da clínica. O delegado-chefe Bruno Carvalho anunciou que dará mais informações nesta segunda-feira.

Peritos já analisam a estrutura do imóvel, que tinha janelas e portas com grades, além de ausência de saídas de emergência e equipamentos contra incêndio. A investigação também vai verificar se a administração seguiu normas de segurança e se houve negligência no socorro.

Tragédia anunciada

Especialistas em segurança destacam que casos como esse revelam vulnerabilidades no sistema de fiscalização de clínicas terapêuticas. Muitas funcionam em áreas afastadas, sem controle rigoroso de condições de hospedagem e segurança.

Para familiares e sobreviventes, a tragédia deixou marcas irreparáveis. “Eles trancaram todo mundo dentro da casa. Meu irmão morreu porque não teve chance de escapar”, desabafou G.C.S., emocionado.

Enquanto a polícia busca esclarecer responsabilidades, a comunidade local ainda tenta se recuperar do trauma de uma madrugada que expôs falhas graves em um espaço que deveria acolher e proteger pessoas em busca de recomeço.

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