Ocorrências dobraram em um ano; empresas e governo trabalham para conter o avanço do crime no DF

Os furtos de cabos elétricos e de telefonia no Distrito Federal virou uma epidemia silenciosa. Em apenas um ano, o número de ocorrências mais que dobrou, sobrecarregando serviços públicos e provocando prejuízos milionários.
Empresas de energia e telefonia apontam perdas que ultrapassam R$ 1 milhão apenas no primeiro semestre de 2025. A prática criminosa afeta diretamente a população, que sofre com cortes de luz, falhas na comunicação e instabilidade na internet.
Segundo dados da Neoenergia Brasília, entre janeiro e maio deste ano, foram registrados 180 casos de furto de cabos. No mesmo período de 2024, foram 85. O aumento de 111% preocupa autoridades e empresas, apesar de o prejuízo direto ter recuado: de R$ 376 mil em 2024 para R$ 288 mil neste ano.
Já a Companhia Energética de Brasília (CEB Ipes) informa que, entre janeiro e junho, o total de cabos furtados saltou de 39 para 57 quilômetros, gerando um prejuízo de R$ 1,1 milhão — um crescimento de 46%.
As regiões mais afetadas incluem o Plano Piloto, Planaltina, Taguatinga, Ceilândia, Recanto das Emas e Cidade Estrutural. Na Asa Norte, os furtos tendem a crescer nas quadras mais afastadas.
Ferro-velhos na mira
Para dificultar a revenda dos materiais, a Polícia Civil e a Polícia Militar intensificaram as fiscalizações em ferros-velhos e centros de reciclagem. A receptação — compra de material fruto de crime — é punida por lei, com possibilidade de prisão.
Paulo Santos, de 35 anos, proprietário de um ferro-velho no DF, relata que ofertas irregulares são frequentes. “Aparece de tudo: gente bem vestida, idosos, até crianças. Mas só compramos com nota fiscal. Registramos nome, RG e endereço de quem vende”, afirma.
Segundo Paulo, a queima dos cabos — prática comum entre criminosos para apagar o número de série — é um dos indícios mais fortes de ilegalidade. “Sem o número, não tem como provar a origem. E isso pode gerar dor de cabeça com a Justiça.”
Prejuízos para todos
De acordo com o gerente da Neoenergia Brasília, Hudson Thiago, os prejuízos vão além do financeiro. “Os furtos comprometem o fornecimento de energia, geram quedas e exigem reparos complexos. A população é quem mais sofre”, diz.
A Secretaria de Segurança Pública afirma que trabalha em conjunto com as concessionárias para combater o crime. O secretário Sandro Avelar informa que operações recentes resultaram na prisão de receptadores e apreensão de materiais. “Estamos adotando tecnologias para rastrear os cabos e dificultar a revenda”, diz.
O delegado Lúcio Valente, da Polícia Civil, destaca que os crimes são praticados por usuários de drogas e também por grupos organizados. “É uma cadeia criminosa com várias etapas: furto, transporte, queima e revenda. Mesmo com prisões, há reincidência constante.”
Prisão em flagrante
Na madrugada de 20 de julho, três homens foram presos em flagrante por tentar furtar cabos no DF. Um deles, de 30 anos, foi encontrado dentro de um bueiro, em Águas Claras, com fios e alicates.
No mesmo dia, dois suspeitos — de 31 e 18 anos — foram detidos no Setor Terminal Norte enquanto tentavam levar a fiação da Embrapa. Um deles carregava uma faca e já tinha longa ficha criminal.
Ambos foram encaminhados à Polícia Federal. O mais velho acumula registros desde 2020, com passagens por furto e danos ao patrimônio. O mais novo, além de já ter sido preso por furto, tinha um mandado de prisão aberto no Maranhão.

Foto: Divulgação PMDF
Punições mais severas
O Congresso Nacional aprovou neste mês o Projeto de Lei 4.872/2024, que endurece as penas para furto e roubo de cabos. O texto, que aguarda sanção presidencial, prevê reclusão de 2 a 8 anos para furto simples — hoje a pena vai de 1 a 4 anos.
Em caso de roubo com violência ou ameaça, a punição poderá variar de 6 a 12 anos, especialmente se o crime comprometer serviços públicos essenciais, como transporte ou saneamento.
Enquanto a nova lei não entra em vigor, empresas, polícia e sociedade civil tentam conter uma prática que cresce no subsolo, mas causa impactos visíveis em todo o Distrito Federal.