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PF mira esquema do PCC que lavou bilhões na Faria Lima
PF mira esquema do PCC que lavou bilhões na Faria Lima

PF mira esquema do PCC que lavou bilhões na Faria Lima

01 de setembro, 2025
3 minuto(s) de leitura

PF mira esquema do PCC que lavou bilhões na Faria Lima

A PF deflagrou uma mega operação no dia 28 de agosto e expôs a dimensão da infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) no sistema financeiro brasileiro. A Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo realizaram três ações simultâneas — chamadas Carbono Oculto, Quasar e Tank — contra um esquema que teria movimentado ao menos R$ 52 bilhões em quatro anos.

O foco recaiu sobre empresas, fundos de investimento e fintechs instalados na avenida Faria Lima, principal centro financeiro do país. Só na região, segundo os investigadores, foram cumpridos mandados em 42 endereços.

Etapas do esquema

De acordo com a investigação, o PCC estruturou suas operações em quatro fases. Primeiro, importadoras de combustíveis, financiadas com dinheiro ilícito, adquiriam grandes remessas no exterior. O produto era distribuído a postos controlados pela facção em dez estados, entre eles São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia.

Esses estabelecimentos, cerca de mil ao todo, sonegavam impostos e adulteravam combustíveis. A Receita estima que a fraude tenha causado perda de R$ 8,67 bilhões em arrecadação.

Na segunda etapa, os postos e lojas de conveniência funcionavam como pontos de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. O uso intenso de pagamentos em espécie dificultava o rastreamento das transações.

A terceira fase consistia na ocultação dos recursos. É nesse ponto que fintechs passaram a operar como engrenagens do esquema. Uma delas, o BK Bank, foi descrita em relatório da Receita como um “buraco negro” financeiro, onde valores eram misturados em contas coletivas, chamadas de “bolsões”. Essa prática tornava praticamente impossível distinguir recursos legais de dinheiro proveniente do crime.

Por fim, a blindagem patrimonial ocorria com a aplicação em fundos de investimento. Investigações apontam que 40 fundos, com patrimônio de R$ 30 bilhões, estavam ligados ao grupo. Esses recursos foram usados para adquirir 1,6 mil caminhões, quatro usinas de álcool, um terminal portuário, imóveis e até uma mansão em Trancoso (BA).

Empresas sob suspeita

Entre os alvos da operação está a Reag Investimentos, gestora responsável por administrar R$ 299 bilhões. Em nota, a empresa afirmou colaborar integralmente com as autoridades e negou envolvimento direto com a facção.

Já o BK Bank informou, por meio de comunicado, que é regulado pelo Banco Central e segue padrões de compliance. A instituição, no entanto, não respondeu aos questionamentos específicos sobre sua suposta participação no esquema.

Os chefes da engrenagem

Segundo o Ministério Público de São Paulo, dois nomes se destacam como articuladores do esquema: Mohamad Hussein Mourad, conhecido como “Primo” ou “João”, e Roberto Augusto Leme da Silva, apelidado “Beto Louco”. Ambos teriam comandado operações no setor de combustíveis e nas áreas financeira e patrimonial.

Os dois são acusados de criar empresas em nome de familiares e terceiros para ocultar a ligação direta com a facção. Até o início da tarde desta quinta-feira, apesar dos mandados de prisão expedidos, eles não haviam sido localizados.

Repercussão política

As operações foram classificadas pelo governo federal como a maior ofensiva contra o crime organizado já realizada no Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em rede social, que a ação representa “a maior resposta do Estado brasileiro ao crime organizado da nossa história”.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, destacou que o trabalho conjunto de Receita, PF e Ministério Público atingiu “o andar de cima do sistema financeiro”. Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que fintechs passarão a cumprir regras mais rígidas de fiscalização, semelhantes às exigidas dos grandes bancos.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também comemorou a ofensiva, afirmando que melhorias na inteligência estadual foram essenciais para o resultado. “O crime organizado não terá vez em São Paulo”, disse.

Brechas legais e fake news

Andrea Costa Chaves, subsecretária da Receita, apontou que a facção se aproveitou de brechas regulatórias sobre fintechs, alvo de polêmicas no início do ano durante a chamada “crise do Pix”. Segundo ela, a revogação de medidas de fiscalização, após pressão política, acabou dificultando o monitoramento de transações suspeitas.

Para Chaves, as investigações escancararam o nível de infiltração do crime organizado na economia real. “Percebemos uma invasão do crime organizado no mercado financeiro. É preciso fortalecer os mecanismos de controle”, afirmou.

Um alerta para o futuro

As autoridades afirmam que a operação, além de expor a sofisticação das estratégias do PCC, revela a necessidade de reforçar a supervisão sobre setores financeiros. O uso de fundos e fintechs mostrou como o crime organizado busca se legitimar por meio de estruturas aparentemente legais.

Apesar da grandiosidade das operações, investigadores ressaltam que a batalha contra a facção está longe de terminar. O desafio agora é fechar as brechas que permitem que organizações criminosas transformem bilhões em capital limpo.

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